Rio de Janeiro agosto 1, 2007.

Nessas minhas andanças, viagens à beça, fico curtindo o povo pelos olhos.
Muitas vezes não tenho tempo para ver a cidade em que estamos, então resta-me perceber a alma delas nos olhos das pessoas.
Semana passada BH, semana próxima Portugal, depois NY, depois POA!!! Então percebi nesta semana passada em Minas, um gostinho de passado na boca se misturando comigo.
O povo de Belo Horizonte é um encanto; “gostei do tamborzim seus!”.
É um acento rococó, a moda barroca, cheio de carinhos e diminutivos da língua portuguesa - “bunitim, cherozim - c ta cumenu poquim demais sô! Esse pititim no prato não sustenta ninguém não, tá muito magrelinha!”. Lá de Ituiutaba, dizia minha tia Joana, parte paterna, nas minhas férias de julho de infância, ela adorava nos alimentar! Era uma relação - “com açúcar, com afeto”-comida feita com tanto afeto e esmero que era bom estocar. Demonstrar agradecimento comendo. A relação com comida era um tanto perigosa, posto que tudo estava as voltas dela, se não fossemos de tendências magras, possivelmente teríamos muitos problemas.
Comer muito, falar do assunto o tempo todo, mal terminávamos o almoço e elas já pensando e se preocupando com a merenda ou jantar, e o dia seguinte.
As tias mineiras são de uma criatividade em seu vocabulário, fora a acidez do humor dramático e escaldante, sempre deixando um espaço para um outro se enfiar no meio, chamando, provocando. As normalidades do cotidiano não as entediavam, até em momentos difíceis como nas tristezas da vida, funerais e etc, ouvia-se sempre uma gargalhada, uma risada boa, de palavras pouco inocentes. Me deram ótimas férias aqueles momentos com elas.
Todas as casas daquela cidade por menores e mais simples que eram, cultivavam um jardim e tanto. Sempre caprichosos e ligados à natureza. Tudo tinha uma erva do próprio plantio, os casos sempre ricos de detalhes traziam sempre um matinho ali, um arbusto lá, um tucano, um periquito etc. Lembro-me de tios falando sobre pés de paus que não existem mais, que era fácil sentir o cheiro deles, cada folha contada com detalhe dos fatos: “nenhuma mulher no mundo era mais bonita que aquele pé de pau!”. As tias, hilárias tias, uma dessas conversas até registrei um pouco balbuciado no final da canção ”Baú“. Certa vez, há alguns anos, liguei para minha tia Regina e perguntei como andava minha querida prima Daniela. Sem pestanejar, rápida como o pensamento ela atirou uma frase deste tipo que é bem deste meu povo: “uai Vanessa, a Daniela tá boa sô, só que tá namorano o trem mais fei do Brasil, um coitado de um homem horroroso, ela parece um pombinha namorando um rinoceronte. Não... tem dó!!!” Acidez com muito humor.
É um povo e tanto o mineiro, um pouco menos ácidos que minhas tias que são uma família talvez extrovertida demais para um mineiro tradicional, mas identificável na fala simples e carinhosa na vontade de receber bem e de alimentar bem, no gosto por estar com os amigos. Que saudades!
Um grande beijo em todos eles, e beijocas em todas as tias e tios dessa Minas Gerais!