Meu encontro com a Velha Guarda

Festa do MC Zeca Pagodinho, eu convidada a participar com a VELHA GUARDA DA PORTELA. Era o lançamento do cd+dvd do mais novo e bem sucedido selo “Zecapagodiscos”.

Fiquei como uma filha musical, tanta gente os admira nada à toa, e eu como sou nada pouco, fiquei ontem em um tipo de estado flutuante e emocionadíssima. Talvez tenha ficado assim quando cantei com Baden Powell há dez anos, o flutuante!

Adoro pessoas com aqueles olhos, aquela doçura, aquele tipo de tranqüilidade, aquela dignidade e benevolência. Eles são os ANJOS AZUIS do samba, e eu me senti como em uma espécie de benzição, de afrouxamento da alma, relaxada e cheia de graça, como no terreiro de Tia Surica, que me convidou tão carinhosa e bem humoradamente com os seus velhos conhecidos de uma turma de muitos anos a ir ao seu comentado “dia de feijoada da tia Surica”.

Este tipo de trabalho tão imenso de importância representa muito para mim, é uma espécie de soma de vozes que eu acredito, é muito brasileiro e há tanto de história nele, um canto que é do povo, do samba carioca, mas tão meu Matogrossense como de qualquer outra do nosso país, é um canto íntimo, ancestral, maternal, este tipo de grupo vocal nos expressa de uma maneira muito própria, diferentemente dos tipos de vocais gospel americanos ou mesmo africanos, (alguns grupos no Brasil ainda pouco possuídos e divulgados são muito bem divididos e organizados vocalmente, muitos documentários os mostram em ótimas gravações como no “Música do Brasil”, ou mesmo Marcos Pereira, o primeiro é mais fácil de ser encontrado foi idealizado pelo antropólogo Hermano Vianna, tão difícil de achar como importante de ter, documentam as manifestações brasileiras musicais vastamente, como cururu e siriri e até as congadas de Minas, as folias de reis do sul ao centro-oeste brasileiros, os grupos indígenas e as gigantes manifestações do norte, Bumba-meu-boi e Boi-bumba). A Velha Guarda da Portela é outra roda, bem diferente das demais, não menos ou mais, todos são canto de afirmação de força musical históricas, inclusive nas composições que muitos da minha geração não conhece ou não sabe da autoria.

Ponho aqui o meu apelo de atenção e carinho a Monarco, Timbira, Surica, vozes que mantêm viva uma tradição que se encontra, mesmo que pareça distante, das senhoras do vale do Jequitinhonha ou mesmo no recôncavo baiano, Sergipe ou mesmo nas regiões do Cariri. São de todos nos estes Anjos Azuis, e como diz o querido Zeca,” é uma honra”, foi uma verdadeira boa reza, para mim tê-los na noite de ontem, ao meu redor.